A Brigada Militar faz buscas pelos seis fugitivos que escaparam nesta quinta-feira (4) do Presídio Regional dePelotas (PRP). Os homens são líderes de uma das organizações criminosas que disputam o domínio dos pontos de tráfico de drogas na cidade e são considerados criminosos de alta periculosidade. A execução do plano de fuga ocorreu no dia em que servidores da Segurança Pública paralisaram as atividades devido ao parcelamento dos salários do funcionalismo estadual. As situações geraram ainda mais insegurança na população. O comércio, inclusive, fechou as portas. Muitos boatos sobre arrastões e assaltos surgiram.
De acordo com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) por volta do meio dia, um caminhão em marcha ré atingiu o muro lateral da casa prisional permitindo que os presos fugissem. Agentes da Segurança do PRP que estavam na área do semiaberto ouviram o estouro da queda do paredão. Segundo a administração do presídio, no caminhão estariam seis pessoas fortemente armadas que, durante a fuga dos comparsas, trocaram tiros com os agentes.
Conforme a Susepe, para fugir os presos serraram as grades da galeria B - que dá acesso aos fundos da penitenciária -, desceram de uma altura de aproximadamente seis metros, caíram dentro do canil, conseguiram escapar dos cães e aguardaram a queda do muro. Ainda segundo a Susepe, durante o horário de almoço os presos ficam livres para circular pela sua galeria. Após a derrubada, o sexteto fugiu em dois carros e uma motocicleta.
Um dos veículos foi localizado ainda durante a tarde, no Monte Bonito, por policiais militares do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Antes de abandonar um dos carros utilizados na fuga, os criminosos abordaram um produtor rural que estava em uma Toyota Hillux. A vítima contou aos militares que o grupo armado perguntou: "vamos trocar?" Antes mesmo de responder o homem teve uma arma apontada para a cabeça.
A Corregedoria da Susepe abriu inquérito para apurar a fuga. O órgão deve investigar o caso também na esfera administrativa. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que designou mais policiamento para Pelotas. O comandante do 4º BPM, no entanto, tenente-coronel Eduardo Perachi, disse que ainda não foi notificado sobre o reforço policial.
Falhas na segurança
Durante a fuga dos seis criminosos, não havia sequer um policial militar nas guaritas do presídio. A ausência de segurança externa na casa prisional, que abriga mais de 1,1 mil presos, não é devido a paralisação do funcionalismo. O problema é falta de policiais para atuar no local. "Ali está sempre sem PM. Essa fuga já era prevista. Os muros são apenas de tijolos, não há vigas nem nada mais firme. O PRP é uma bomba-relógio", disse um funcionário da Susepe que prefere não se identificar.
O titular da 5º Delegacia Penitenciária Regional, Hamilton Fernandes, considera que a fuga dos líderes de uma das organizações criminosas demonstra a necessidade de o PRP sair da zona urbana. "O que aconteceu é muito grave. É preciso um novo prédio, em um local afastado, onde a segurança seja maior para todos", comentou.
Denúncia
Conforme o diretor do PRP, Fluvio Bubolz, no dia 27 de julho a direção da casa prisional enviou à Brigada Militar solicitação de reforço no policiamento para a área externa, já que havia sido informado à Polícia Civil que presos da galeria B iriam fugir. Na denúncia, porém, o método dos criminosos foi identificado como utilização de explosivos. A Susepe realizou revista nas celas da ala e não encontrou nenhum artefato. Segundo Bubolz, não houve resposta por parte da BM.
Insegurança e medo
A notícia sobre a fuga dos presidiários se espalhou rapidamente e causou alvoroço nas redes sociais. Em poucas horas passaram a circular pelos grupos de mensagens instantâneas boatos sobre diversos assaltos a estabelecimentos comerciais, instituições financeiras e supermercados, causando uma onda de insegurança e medo entre os pelotenses.
No calçadão da rua Andrade Neves, por volta das 14h30min, o cenário era de poucas pessoas em circulação. Muitas lojas fecharam as portas com receio dos rumores e outras optaram por manter o funcionamento, mas com os portões baixos. Em frente às lojas muitos atendentes e vendedores estavam em busca de explicações. "As informações estão desencontradas, estamos com medo. Isso tudo começou com a história do presídio", disse a vendedora Marili Farias. Outra vendedora, Priscila Timm, relatou que sua loja, na Galeria Malcon, recebeu várias ligações após o boato de um possível assalto ao estabelecimento.
Em uma agência bancária do Centro, às 14h15min, o guichê de atendimento aos clientes, sempre fixado próximo aos caixas eletrônicos, foi deslocado para a parte interna, protegida por vidros.
Até o momento, nenhum dos presos havia sido recapturado.
DIÁRIO POPULAR