O acidente com o motociclista aconteceu na frente da casa em que Sônia Silveira, 50, vive com a família. "Caiu toda a rede. Deu um vento forte e caiu tudo. A sorte é que soprou pro outro lado", diz ela, ao apontar para o telhado da casa, no Guabiroba. A costureira testemunhou a chegada de equipes da CEEE e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que atenderam Eliezer. Ele foi encaminhado ao Pronto-Socorro de Pelotas (PSP), onde passou a noite. Postes e cabos caídos cruzavam uma Carlos Gotuzzo Giacoboni ainda sem eletricidade e interrompida por agentes de trânsito quando Rosa morreu, por volta das 8h30min.
Tanto Sônia quanto a vizinha de porta, Gicelda Moreira, 47, contestam a condição das estruturas fragilizadas pela ventania. Conforme o Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa, ventos de mais de 60 quilômetros por hora acometiam a região, próximo ao horário em que os postes caíram. "As crianças estavam dormindo quando deu o estrondo, ainda bem. Agora vão ter que tomar banho de caneca pra ir pro colégio", conformava-se a dona de casa. A madrugada chuvosa acumulou mais problemas à população: duas árvores caídas no Areal e no Fragata; um painel sustentado por uma estrutura de ferro, na Associação Rural, também caiu; sinaleiras falhas no bairro Três Vendas nas primeiras horas da manhã; e registros de telhas de casas removidas pelo vento no Simões Lopes.
Região
A assessoria da CEEE alega que dos 9,4 mil clientes que ficaram sem energia elétrica, em média 4,2 mil eram de Canguçu. Outras cidades como Herval, Capão do Leão, Arroio Grande, Pedro Osório, Piratini e Rio Grande também foram atingidas. Na zona rural de Aceguá, na Colônia Pioneira, as rajadas de vento destelharam dez casas, além de abalar a estrutura da Escola Pioneira. Segundo o secretário de Planejamento e Meio Ambiente do município, Marcelo Pinheiro, a Defesa Civil entregou lonas aos moradores, ainda durante a madrugada desta terça-feira. As aulas continuaram normalmente no educandário, porém, muitos dos cerca de 200 alunos não compareceram, pois estavam sem luz em casa. Em Rio Grande, o secretário executivo da Defesa Civil, Glênio Freitas Jr, afirma que a situação mais crítica foi na Ilha da Torotama. Aproximadamente duas mil pessoas ficaram sem luz e sem água.
Alerta de mais ventania
O coordenador da Defesa Civil de Pelotas, Paulo Darci dos Santos, alerta para a intensificação dos ventos. "Pela previsão do tempo, devem se intensificar na noite de hoje (terça-feira). Portanto, estaremos em estado de alerta", assegura. A meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, afirma que nesta quarta o vento deve ser mais forte em todo o Estado, principalmente nas áreas Leste e Sul. "As rajadas por vezes ficarão perto ou acima de 100 quilômetros por hora", antecipa. A velocidade pode chegar a 140 quilômetros por hora. A Defesa Civil atende pelo número 153, em regime de plantão 24 horas.
O fenômeno em três momentos
1. Uma espécie de corredor de vento forte, a cerca de 1,5 mil metros de altitude, se originou na Bolívia e desceu até o Rio Grande do Sul. Atuou no final de segunda-feira e na madrugada de terça. Com vento Norte muito intenso, trouxe também temperatura acima de 30ºC em algumas cidades na madrugada. Essa corrente se intensificou à medida que se aprofundou um centro de baixa pressão, o que deu origem ao ciclone no Prata. Essa corrente de jato dissipou-se sobre o Estado com o deslocamento da frente fria.
2. A frente fria foi o que trouxe vendavais em algumas cidades em ocorrências de temporais, caso de Jaguarão (91 km/h) e Porto Alegre (89 km/h). O vento forte, numa frente fria, ocorre quando ela chega e se dá a rápida troca de massas de ar.
3. O que ainda não havia ocorrido terla, mas ocorrerá, é o vento do ciclone. O sistema já estava formado e trará vento muito intenso, acima de 100 km/h, com rajadas de 120 km/h a 140 km/h, no Uruguai entre o final de terça e quarta-feira, à medida que se desloca para Norte e Nordeste. Também nesta quarta o vento volta a aumentar no Estado por efeito do ciclone, com rajadas de 60 km/h a 80 km/h na maioria das cidades gaúchas. E pode passar de 100 km/h em pontos do Sul, das lagoas, na faixa costeira e nos Aparados. Por isso, nestas áreas, a ventania mais intensa ainda está por vir.
Fonte: Meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, da Metsul