Duas pessoas foram presas pela Polícia Civil em Pelotas durante a Operação Deu Zebra, que desarticulou um esquema criminoso de jogo do bicho que atuava em 14 cidades do Rio Grande do Sul. As quadrilhas especializadas no jogo informatizaram o esquema e controlavam a contravenção penal em mais da metade do Estado. Conforme a polícia, o grupo planejava um aplicativo de celular para a prática da contravenção. Ao total, 21 pessoas foram presas, dinheiro, ouro, armas e veículos apreendidos.
Investigações da Polícia Civil apontam que, em quatro anos, o grupo movimentou mais de meio bilhão de reais, cerca de R$ 521 milhões. Um dos chefes do esquema é um homem de uma família tradicional de Bagé, dona de cinema e emissora de rádio. Ele foi preso nesta terça-feira (25) e é considerado pela polícia o segundo maior bicheiro do Estado. Uma outra liderança foi presa em São Gabriel.
Um dos suspeitos presos em Pelotas seria o "cérebro" da organização criminosa. O técnico em informática era o responsável pela parte de Tecnologia da Informação (TI), incumbido de instalar softwares e alterar máquinas de cartão de crédito para a prática do jogo do bicho. O outro, um advogado, seria o gerente do jogo do bicho em Dom Pedrito. De acordo com a titular da 12ª Delegacia de Polícia Regional (Santana no Livramento) e responsável pela investigação, Ana Luíza Tarouco, Pelotas era o núcleo tecnológico da organização. Policiais civis e militares também estão envolvidos no esquema criminoso.
Segundo a delegada, a quadrilha era hierarquizada e estruturada. Cada integrante do esquema tinha sua função que ia de apontadores, recolhedores, gerentes, laranjas, equipe de TI, suporte logístico a segurança até braço direito do "Barão", como é chamado o líder da organização. O grupo era dividido em duas equipes: a empresarial, responsável por ensinar a dinâmica da contravenção e recrutar integrantes e, a encarregada das cobranças que, na maioria das vezes, se utilizava de braço armado e violência para cobrar dívidas dos apostadores. "Foram mais de 250 horas de vigilância, mais de 5 mil horas de interceptações telefônicas que auxiliaram na identificação de quase uma centena de envovidos no esquema", conta Ana Luiza Tarouco.
O Chefe de Polícia, Delegado Emerson Wendt destaca que essa ação é a maior operação de lavagem de capitais da Polícia Civil gaúcha, dado o volume financeiro movimentado. "Certamente ações como esta não param por aqui, a Polícia Civil segue monitorando esses e outros crimes correlatos diuturnamente nas mais diversas regiões do estado", destacou Wendt.
Ao total, 212 policiais cumpriram mais de 237 ordens judiciais, as quais 14 foram mandados de prisão, sete de condução coercitiva e 73 de busca e apreensão. A polícia apreendeu ainda 57 veículos e 19 imóveis. Pelo menos 67 contas bancárias foram bloqueadas pela Justiça.
Além de Pelotas, a Operação "Deu Zebra" foi deflagrada nos municípios de Bagé, São Gabriel, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Cacequi, Quaraí, Dom Pedrito, São Sepé, Caçapava do Sul, Santa Rosa, Santo Ângelo, Taquara e Porto Alegre.
Investigação
A investigação teve início em fevereiro de 2016 e identificou que atrás de um apontador do jogo do bicho de Santana da Boa Vista havia uma rede criminosa. São 43 inquéritos com mais de 4 mil páginas que apuram a movimentação do grupo. Segundo aponta a polícia, os criminosos compravam máquinas de cartão de crédito e encaminhavam ao técnico de informática de Pelotas, preso na ação, para adulterar os equipamentos. Uma empresa de Taquara, na Região Metropolitana da capital, é investigada por fornecer os dados e uma outra em Porto Alegre é apontada pela polícia por armazenar estas informações. As empresas são legalizadas.
Durante 16 meses, a polícia apurou que o dinheiro arrecadado com a contravenção era repassado pelos gerentes a contas de laranjas que, no caso, eram pessoas físicas e empresas. Em seguida, as cifras milionárias eram enviadas aos chefes que investiam em imóveis e veículos.
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