Depois de Candiota e Canguçu, foi a vez de Pelotas. No quilômetro 62, cerca de 800 pessoas que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e de Pequenos Agricultores (MPA) tomaram conta da rodovia até a primeira tentativa de negociação com a Polícia Rodoviária federal (PRF). No momento em que um agente disse que todos seriam multados, os ânimos se alteraram e o tom de voz ficou mais alto entre os dois lados. Foi preciso pedir distância e um outro agente tomou a frente do diálogo.
Em conversa com os representantes do MST e do MPA, Ivair de Souza e Elaine Fonseca, ficou combinado que a pista seria liberada por meia hora e depois voltaria a ser bloqueada por uma hora e assim sucessivamente. "A liberação está dentro do nosso discurso político. Queremos chamar a atenção do governo e não causar transtornos", afirmou Souza. Para o MST, a iniciativa faz parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
O primeiro comando para a liberação da faixa foi às 9h15min e quem esperava desde as 7h pode seguir viagem. "Haviam pessoas doentes na fila. Nossa tratativa foi para desafogar o engarrafamento", disse um agente.
O protesto na BR-392 seguiu também à tarde. Os coordenadores da manifestação em Pelotas só deixariam o local após a reunião em Porto Alegre. O encontro, marcado para as 14h, contou com representantes da região e Cleber Benvegnú, secretário-chefe da Casa Civil do governo gaúcho. O objetivo era entregar ao secretário as reivindicações dos agricultores. Em nota após o encontro, o órgão estadual afirmou ter recebido os pedidos, como alimentação para o gado, reforma agrária e liberação de recursos para famílias atingidas pela estiagem.
Uma das demandas, por um convênio com o BNDES, recebeu a promessa do secretário afirmando que a Casa Civil irá atuar junto ao banco para buscar uma orientação sobre a liberação dos recursos. Já o secretário de Desenvolvimento Rural do Estado, Tarcisio Minetto, garantiu que irá analisar junto ao Incra a possibilidade de aquisição pelo Estado de algumas áreas ocupadas pelos movimentos. Segundo o Cel. Martins, representante da Defesa Civil, está prevista a chegada de recursos para a Região Sul, Costa Doce e Campanha nos próximos dias e que, caso estes recursos não sejam suficientes, o Estado irá complementar o restante.
Fim do bloqueio
No início da tarde, a juíza federal, Andréia Castro Dias Moreira, deferiu o pedido de tutela de urgência para a concessionária Ecosul garantindo a desocupação da BR-392. Com o documento, os manifestantes ficaram impedidos de realizar qualquer tipo de intervenção nas rodovias BR 392 e BR 116, na faixa de domínio e/ou na praça de pedágio em trechos da BR 116 concedidos à demandante, bem como na sede da empresa concessionária, capaz de, mediata ou imediatamente, provocar dano patrimonial à autora ou prejuízo ao fluxo normal de veículos. A ordem foi entregue por volta das 16h e, de acordo com a PRF, foi dado um período de 3h, a partir do momento da notificação, para a saída dos manifestantes. Às 17h, os manifestantes fizeram um último bloqueio e um ato de encerramento, de acordo com o manifestante Adilson Oliveira Schuch, dirigente regional do MPA.
Por volta das 18h, os manifestantes encerraram o protesto. Para Schuch, o resultado foi satisfatório e o movimento agora aguarda as respostas tanto do governo do Estado para as solicitações quanto da direção dos movimentos. "A gente sabe que não se resolve tudo em um dia só, mas o entedimento foi positivo (...) pela primeira vez em quatro anos, abrimos negociações com este governo", comemorou. Segundo ele, não há previsão de bloqueios para os próximos dias.
Situação
A pequena agricultora do interior de Canguçu, Alzira Nunes Moreira, 52 anos, lamenta as perdas na produção de milho e feijão. "Quem não conseguiu plantar, não planta mais. Quem plantou, não conseguiu colher." Ela faz parte da Associação da Coxilha do Fogo, no 3º Distrito do município e reclama ainda a falta de pasto e de água para o gado. "Não tem chuva!" Segundo o escritório municipal da Emater, o maior prejuízo foi em relação ao milho, que apresentou 60% de perdas.
Porto Alegre
Cerca de 500 trabalhadores ligados à Via Campesina ocuparam no início da manhã a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Eles exigiam a continuidade da execução do Programa Camponês, uma solução urgente para o problema da estiagem que atinge vários municípios da metade Sul e assinatura imediata dos contratos de uma chamada pública para compra de alimentos da agricultura familiar.
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